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Ela escrevia bem. Seus dedos tilintavam no teclado com a desenvoltura de uma bailarina. As palavras dentro dela fluíam naturalmente, sabia onde colocá-las para lhes dar beleza e significado. Mas não sabia sobre o que escrever.
Queria ser escritora, sempre quisera. Preferia os livros realistas, sem muita fantasia, mas conhecia pouco da realidade. Era jovem demais para escolher um assunto e pesquisá-lo até o fundo, não tinha recursos ou liberdade para tal. E sua própria existência era por demasiado desinteressante. Sua vida, perfeita demais. Tinha pais maravilhosos, uma casa linda, comida na mesa todos os dias, amigos incríveis e um quase-namorado igualmente extraordinário.
Apesar disso, em sua ânsia por escrever, desejava secretamente que uma tragédia acontecesse em sua vida. Sentia vergonha disso, sentia medo. Mas não conseguia parar de desejá-lo. A miséria, a doença e a maldade geram no ser humano uma crise existencial que ela desejava para si. Queria produzir arte através do mal. Mas não havia mal em sua vida.
Restava-lhe então escrever sobre os próprios sentimentos, pensamentos e demônios, quando eles não fossem confusos demais.
Criou então um blog.
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